in Poemas da
Guerra, de Mim e de Outrem (Editora Piaget-2000)
Manhã cedo
Sentado na esplanada de um café
Fito o burburinho nascente
Daquela praça
Reparo
Uma por uma
Em cada pessoa que passa
Olho também o edifício em frente
Onde alguém assoma à janela
E digo para comigo:
Será que aquela desgrenhada
Despenteada mulher
Guarda a alma nos frasquinhos de perfume
E ideais não tenha mais
Que o alinhamento dos talheres?
Que me importa a mim, porém
Que alguém faça isto
Ou aquilo
Se nada disso comigo se relaciona
Nem sequer com o lugar onde estou
Observo a velha vagarosa que passa
Suspirando ais
Retenho de fugida
A figura da estudante que passou
Fito a graça colorida das flores nos canteiros
Sentimentos passageiros
E nada mais
Chaves, 2 de Abril de 1961